Inicialmente, a obra de Gilmar Pinna havia sido divulgada por Luis Paulo Rosenberg, vice-presidente do Corinthians e ex-diretor de marketing, como uma estátua gigante de São Jorge (do tamanho do Cristo Redentor, se descontado o pedestal da escultura carioca) que motivaria peregrinações religiosas a Itaquera. Não era para menos: todos os elementos da caracterização habitual do padroeiro corintiano – um cavaleiro, sua lança e o dragão – estão no projeto, que prevê ainda 15 grandes bustos de torcedores saídos de um espelho d’água de 80 metros de largura, com os braços esticados, em gesto de devoção ao “Cavaleiro Fiel”.
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Feito de aço inoxidável, o “Cavaleiro Fiel” do escultor Gilmar Pinna terá aproximadamente 30 metros de altura e pesará 200 toneladas, com custo estimado de R$ 6 milhões |
“Isso mesmo: os torcedores ficarão atrás do Cavaleiro Fiel, e não de São Jorge. Você já aprendeu: Cavaleiro Fiel! Não vá se confundir com Cavaleiro da Fiel, hein?”, roga Gilmar Pinna, com as palmas das mãos unidas, preocupado com uma possível reprovação da obra por parte de evangélicos (contrários ao culto de imagens) e até de seguidores de religiões afro-brasileiras (que sincretizam São Jorge na forma de Ogum). “Tenho experiência nessa área. Sei que é complicado mexer com religião.” A ideia de mudar o nome da estátua foi uma orientação do filho mais velho do escultor, Gilmar Pinna Júnior, que é publicitário e tem ajudado o pai a viabilizar a construção do monumento.
Foi Gilmarzinho quem promoveu uma reunião – e um rápido acordo – entre seu pai e Luis Paulo Rosenberg, há cerca de seis meses. Gilmar Pinna já estava propenso a utilizar a Copa do Mundo de 2014 para se inspirar naquela ocasião. Havia sido contratado por Sebastião Almeida, prefeito de Guarulhos (onde reside atualmente), para criar 12 obras de 25 metros de altura cada e embelezar o município vizinho de São Paulo para o evento. “Quando soube que o estádio do Corinthians abriria a Copa, não pensei duas vezes em conciliar esses dois projetos. Recorri ao meu filho para entrar em contato com o Rosenberg, que foi bastante receptivo”, comenta.
Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Rosenberg, no entanto, fez algumas ponderações sobre o esboço apresentado por Gilmar. O escultor tinha planejado expor diante do estádio do Corinthians grandes estátuas de jogadores de futebol de destaque internacional do passado e do presente, como Pelé, Maradona, Neymar, Messi e outros. O dirigente preferiu que a torcida fosse contemplada ao lado de São Jorge – ou melhor, do Cavaleiro Fiel. A sugestão agradou. “O Rosenberg e o Corinthians gostam de trabalhar em função do ser humano, e isso me cativou. Também sou assim”, diz o artista plástico. Gilmar Pinna gosta de trabalhar em esculturas grandiosas, como as que planejou para a Copa
Mãos dadas em nome do amor
Gilmar é “assim” a ponto de se empolgar e erguer a voz quando define o que pretende incitar nas pessoas com o seu Cavaleiro Fiel gigante de Itaquera. “O amor! Cara, o homem [Jesus Cristo] desceu aqui, foi crucificado e falou ‘amém’. Muitos anos depois disso, as pessoas continuam brigando por qualquer coisa, matando por futebol e religião. C...! P...! Outro dia, Chico Buarque estava falando do período em que ia assistir a Corinthians contra Santos no Pacaembu. Ele era jovem, garotão, e via as torcidas todas misturadas nas arquibancadas. Era uma harmonia sadia, do c...! Por que não pode mais ser assim? Não entendo!”, ele grita, enquanto mexe freneticamente na sua inconfundível trança de cabelo.
O desejo de propagar a fraternidade é tamanho que Gilmar cogita fazer algumas alterações no seu projeto para o futuro estádio do Corinthians. “Os torcedores que reverenciam o Cavaleiro Fiel no monumento poderão, quem sabe, ficar de mãos dadas, conclamando a paz. Eles são torcedores de todos os times, já que o estádio será também da Copa do Mundo, da Seleção Brasileira, do povo. Não dá para visualizar no vídeo que fizemos da obra, mas eles terão suas feições detalhadas, externando sorrisos e tristezas. Alguns estarão torcendo pelo cavaleiro e outros pelo dragão. Talvez eu também coloque uma bandeira pacificadora com o guerreiro, uma flor em sua lança... Vamos ver”, avalia o escultor, entusiasmado.
Um receio semelhante ao que transformou São Jorge em um Cavaleiro Fiel, contudo, poderá fazer os torcedores idealizados para a escultura continuarem de braços estendidos. “Existe um preconceito contra as mãos dadas, não é?”, constata Gilmar, referindo-se a sentimentos homofóbicos com um piscar de olho. “Mas mão dada é do c...! Até os jogadores unem as mãos quando rezam antes das partidas. Os torcedores se abraçam para cantar suas músicas. Precisamos trilhar esse caminho da união”, contesta em seguida. Para colaborar com a sua visão de mundo, o artista distribuiu abraços a quem estava por perto em meio a esse inflamado discurso fraternal.
Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, Gilmar Pinna já se acostumou a enfrentar preconceitos e a celebrar a paz em seus trabalhos. O sétimo dos oito filhos do jornalista Gil com a índia caiapó Maria é natural de Ilhabela, de onde se tornou embaixador cultural graças à perseverança. “Você não percebe que tenho uma expressão indígena?”, pergunta. Na infância, além de ter encantado diversos turistas com suas esculturas nas areias das praias do litoral norte paulista, fez questão de chocar outros tantos com seus cabelos compridos, calças floridas e chinelos de dedo. Ouviu muitos gritos de “veado”, embora fosse mulherengo. “Imagine o que as pessoas pensavam de mim há 40 anos. Mas não quero nem saber. Ainda hoje gosto de provocar esses babacas. Às vezes, saio do meu ateliê com a mesma roupa simples do dia a dia e coloco duas tranças ao contrário só para incomodar esses filhos da p...! Eles ficam me olhando como idiotas, em vez de prestarem atenção nas coisas da vida que valem a pena. Você tem que se vestir e ser do jeito que quiser!”, desabafa. Ateliê do artista em Guarulhos é claro, organizado e fica bem ao lado de uma sub-sede da Gaviões da Fiel
Um corintiano no exterior
Gilmar Pinna não se contentou em afrontar – e presentear com suas obras – apenas a sociedade ilhabelense e brasileira. Com 15 anos, após se inspirar no renomado artista espanhol Fernando Odriozola em Ilhabela e aprender a trabalhar com metais (o material já lhe fascinava, por causas das soldas do vizinho austríaco Lamberto) com o argentino Domingo Soto, ele calçou seus chinelos de dedo e colocou as calças floridas na mala para conhecer o mundo. “Fui morar na Itália, enfrentei dificuldades, passei por Portugal, o lugar de que mais gostei, Espanha, Estados Unidos... E agora estou em Guarulhos, onde fui muito bem acolhido pelo prefeito e pela população. O artista precisa vagar junto com a sua arte. Sempre senti falta de um monte de coisas lá fora. Mas meus filhos já estão crescidos. Quer ver como já não ligam para mim?”, diz, tentando se comunicar com Gilmarzinho por intermédio de um rádio. Seus bipes não foram respondidos durante todo o dia.
Sergio Barzaghi/Gazeta Press
No exterior, Gilmar Pinna tinha um motivo além dos parentes e amigos para ficar com saudades do Brasil. “Sempre frequentei estádios de futebol. Pertenço a essa m...! Joguei bola a vida inteira. O Gilmarzinho também era bom para c...! Ele jogava com Diego e Robinho. Era melhor do que os caras! Só que acabou se cansando do ambiente. Então, como corintiano fanático, eu achava duro ficar longe dos jogos do meu time de coração”, afirma. Mesmo do outro lado do mundo, a paixão não foi esquecida. O escultor aproveitou uma estadia em Tóquio, certa vez, para assistir a uma partida entre duas equipes japonesas. “Por qual está torcendo?”, perguntaram-lhe. “Pelo Corinthians! Não importa onde eu esteja ou a situação. Ontem, agora e amanhã: sou Corinthians. Sempre.” Sorridente, Gilmar prega a paz em seus trabalhos e gosta de afrontar preconceitos da sociedade
Para provar que o amor pelo Corinthians não se trata de uma demagogia de quem criará uma estátua gigante para um dos principais estádios do Mundial de 2014, Gilmar se levanta e vai até a estante para buscar uma fotografia em um porta-retratos. Na imagem, ele aparece no alambrado do Pacaembu ao lado de dois conselheiros do clube. Vestindo um antigo terceiro uniforme corintiano, que tem São Jorge estampado no peito e já foi alvo de polêmica entre os evangélicos. “Você não me falou que fizeram uma camisa com São Jorge? Olhe aqui: eu tenho”, sorri, sempre comedido com o tema. “Ninguém sabe se São Jorge existiu. É uma lenda. Agora...”, comenta, pausando para coçar o queixo. “... É uma lenda forte, viu? São Jorge é lembrado no futebol, no samba... Não é brinquedo, não.”
Para Jesus Cristo, de graça
Embora não seja devoto do santo nem siga qualquer religião, o artista estudou todas elas e facilmente se mostra um homem de bastante fé. Ele agradece a Deus pelo pão ingerido durante a tarde e abre a uma Bíblia de bolso – com o seu nome escrito na contracapa – para recitar, com os óculos na ponta do nariz, algumas das passagens que considera mais marcantes. Chega a mencionar o caso de um amigo curado de um câncer no cérebro “através da força de Jesus Cristo”. “O cara [Jesus] existe. Estou falando isso independentemente de credo, hein? Não é religião. O cara é muito forte. O cara e-xis-te.”
Não por acaso, a primeira escultura feita por Gilmar Pinna (então com 12 anos) foi um Jesus Cristo crucificado, nas areias de Ilhabela. Ele ganhou um prêmio por aquela obra de arte. “E vou confessar que, desde então, nunca cobrei para fazer projetos relacionados ao filho de Deus. Sinto uma conexão direta com o homem quando trabalho. Só recebo dinheiro por outros tipos de monumento”, afirma o artista, que está esculpindo atualmente uma enorme cabeça de Jesus, em evidência no centro do seu ateliê em Guarulhos – localizado bem ao lado de uma sub-sede da torcida organizada Gaviões da Fiel. Com uma escada, ele encoraja seus convidados a subirem em cima da face da obra para tatearem detalhes da coroa de espinhos, dos olhos, nariz e boca.
Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Uma imagem de Jesus também está presente em um dos trabalhos mais famosos de Gilmar. A exposição Retratos da Vida, que ficou aberta à visitação no Memorial da América Latina de São Paulo, em 2006, foi comprada pelo então prefeito Alberto Mourão para a construção da Praça da Paz, símbolo da cidade de Praia Grande a partir daquele ano. Além da figura de Cristo, cabeças de aproximadamente 10 metros de altura e 30 toneladas de Santa Maria, do Papa João Paulo II, de Madre Teresa de Calcutá, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e até do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, morto em 2003 em um atentado terrorista no Iraque, compõem a obra. “O Mourão viu o monumento no vernissage e disse que queria levar para Praia Grande. Fiz um grande negócio com um cara diferenciado na política brasileira, que se importa com cultura. Bem diferente do Cláudio Lembo, governador de São Paulo na época. Mandato tampão, não é? Ele me cumprimentou no Memorial e passou batido por tudo, pois tem uma cultura podre. É podre, e você pode escrever isso aí. Acredita que ele teve coragem de me oferecer R$ 1 por uma obra?”, esbraveja o escultor. Gilmar Pinna jamais cobrou para esculpir imagens de Jesus Cristo, como esta abaixo do artista plástico
Convencer autoridades da importância de erguer monumentos em lugares públicos é uma missão tão difícil quanto esculpir, de acordo com Gilmar Pinna. “Parece que as pessoas, infelizmente, não ligam para obras de arte no Brasil. Ou não sabem que você gasta fortunas com material para trabalhar. O aço inox tem um preço próximo ao do ouro e vale mais do que a prata. Isso sem falar do tamanho das esculturas que faço. Quando você revela o valor, o cara vira para trás e desiste de comprar. O povo até gosta, mas, ao saber que um prefeito ou alguém pagou por aquilo, fica f...! Estou roendo o osso, fazendo a minha parte em benefício das futuras gerações de escultores”, analisa, triste com a falta de reconhecimento. “Isso acontece em todo o mundo. Pensam que não existe a profissão artista de monumento. E estamos falando de um trabalho árduo, que desgasta e é complicado de vender. Sou tão profissional quanto um médico, um engenheiro, um jornalista, um pedreiro ou um encanador.”
Sergio Barzaghi/Gazeta Press
O Cavaleiro Fiel será uma das obras mais caras de Gilmar Pinna. O custo estimado para utilizar – e transportar com guindastes – 200 toneladas de aço inoxidável e outras 30 de eletrodos é de R$ 6 milhões. “Preciso ganhar alguma coisa também, claro, mas não estou priorizando o dinheiro”, ele avisa. Segundo o artista, o preço seria muito maior fora do Brasil. “Quando morava em Chicago, participei da criação de uma escultura de bronze do Michael Jordan, para o ginásio do Chicago Bulls, que custou US$ 11 milhões. Tinha 3 metros de altura. Preste atenção: 3 metros. A do Corinthians tem 30 metros. Quanto será que os estrangeiros cobrariam por ela? Dez vezes mais, não? Mas não chego a tanto porque tenho consciência de que vivo em outra realidade e por querer fazer algo grandioso pelo meu País”, justifica. Também nos Estados Unidos, ele recebeu cerca de R$ 300 mil – uma “mixaria”, disseram seus colegas – para fazer uma estátua para uma escola norte-americana. Para colocar a obra na Copa, escultor precisa começar a trabalhar no Cavaleiro Fiel nos próximos 30 dias
Sem o Corinthians, em busca de patrocínio
Por conta própria, Gilmar começou a procurar patrocinadores para o seu Cavaleiro Fiel. Já se reuniu – sozinho – com representantes de uma instituição bancária e de uma companhia de telefonia celular. O Corinthians, como tem feito em outros projetos abraçados pelo departamento de marketing, incumbiu o parceiro de viabilizar toda a engenharia burocrática necessária. “O problema é que o Gilmar mostrar a obra é diferente de o Corinthians mostrar. Tenho credibilidade pelo meu trabalho, mas não sou o Corinthians. O Gilmar não é envolvido em nada do esporte. Fica mais difícil”, lamenta. O escultor cogita até seguir o exemplo do clube, que venderá os naming rights da arena da Copa do Mundo, e colocar o nome de uma empresa também em seu cavaleiro para lucrar. “Clamo pelo apoio de quem tem interesse na Copa do Mundo, no Corinthians e em alavancar a cultura no Brasil. Algumas pessoas estão achando que é estátua de São Jorge, mas se trata do Cavaleiro Fiel. Farei uma homenagem para todas as torcidas na escultura, abordando paz, harmonia, amor e camaradagem”, divulga.
Com ou sem patrocínio, Gilmar Pinna garante que o Cavaleiro Fiel sairá do papel. “É claro que sim. Vou fazer isso por mim. Nem que precise tirar alguma coisa do meu próprio bolso. Sei que, se a obra vingar, deixará de ser minha e virará dos caras. Quero que se f...! Não precisa nem ter o meu nome lá. A minha vontade é fazer o bagulho. Se vão ler ou não o meu nome em uma placa, tanto faz. Só quero passar a mensagem da minha arte. Se disserem que foi o Corinthians que fez e não eu, estará tudo bem também. O que vale é o desafio: a molecada e eu esculpindo, tirando uma onda, curtindo... Faturo o meu, e acabou!”, brada.
Divulgação
De fato, são os desafios que movem a vida de Gilmar Pinna. Em fevereiro deste ano, por exemplo, ele embarcou na jangada “Bolinha” ao lado do filho caçula Baepi Pinna (campeão sul-americano e vice-campeão mundial de vela na classe Laser 4.7, hoje morando na Austrália para estudar cinema) e dos pescadores João de Castro e Alex Damico em uma viagem de Santos ao Rio de Janeiro. A aventura marítima durou quase uma semana e foi realizada “em defesa da cultura brasileira”. “As jangadas, patrimônio cultural do Ceará, estão sendo vendidas aos montes para os europeus. Restam muito poucas delas. Meu filho, meus companheiros cearenses e eu quase morremos para chamar a atenção para isso”, fala o artista. De jangada, artista foi de Santos ao Rio de Janeiro com o filho iatista Baepi e dois pescadores
Os parceiros de Gilmar Pinna em outra empreitada, a construção do Cavaleiro Fiel, também são nordestinos. O escultor esteve em Estrela de Alagoas e decidiu dar oportunidade de emprego a um grupo de jovens (corintianos) da cidade de menos de 18.000 habitantes do agreste alagoano. Eles vieram para Guarulhos, aprenderam a esculpir e recebem alimentação, moradia e salários em troca do trabalho diário. Quando é entrevistado, o artista chefe faz questão de tirar fotos ao lado de seus pupilos. “Eles ficam felizes. São os meus braços aqui. É importante dar valor”, enaltece, sem dispensar brincadeiras com os aprendizes. Dilma, que prepara o café e mantém a oficina em ordem, atende pelo apelido de “Presidente” em homenagem à xará famosa. Para que ela sirva o lanche vespertino, um dos garotos é mandado à padaria com a tarefa de comprar salame italiano e mortadela. Volta com 1 kg de presunto. “E eu lá sei o que é salame e mortadela? O cara da padaria disse que também não sabe. Não tem essas coisas na minha terra”, explica, enquanto é repreendido pelo patrão.
Uma atriz global enfezada
É bom que Gilmar seja ponderado ao dar broncas nos comandados. Ao menos quando estiver na presença de sua filha do meio, Maria Pinna, que encarnou a patricinha Babi na novela “Malhação”, da TV Globo. A atriz não aceita nenhuma reprimenda aos empregados do ateliê de Guarulhos. “Alguém tem fósforo?”, ela perguntou, quando visitou o local recentemente e queria acender um cigarro. “Seu pai não gosta que a gente fume aqui”, escutou como resposta. E revoltou-se: “Como é? Não aceitem que ele dê regras para vocês! Procurem seus direitos! Quer saber? Eu mando aqui. Vamos fumar todos nós”. Por ordem dela, os presentes se reuniram para fumar, e o patrão ficou escondido para não presenciar a cena e encarar os protestos da filha.
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Pior ainda ocorreu em Ilhabela. “Leandro, seu filho da p..., sobe aqui para almoçar!”, gritou o pai para seu encarregado. Maria não gostou nada do que ouviu. “Mãe, não precisa fazer o meu prato. Não estou mais com fome”, avisou. Depois, levou Leandro para uma loja de roupas em que Gilmar possuía conta e efetuou compras no valor de R$ 35 mil em presentes para o funcionário. “Ela fez isso só para eu aprender a lição. É mole? Foi pegando dos cabides e jogando nas mãos dele, que não tinha como recusar. Devolvi uma parte, apesar de a Maria já ter mandado não aceitarem. Deixei R$ 2 mil só para não dizerem que a menina perdeu o tempo dos vendedores”, recorda o pai. Alguém comenta: “Nossa, a Maria é bem...”. O escultor não se intimida para completar a frase, rindo: “... Bem louca!”. Filha de Gilmar, a atriz global Maria Pinna é uma ferrenha defensora dos funcionários do seu pai
Mas Gilmar está longe de ser visto como um chefe austero pelos jovens de Estrela de Alagoas. “Ele é muito bom para a gente”, reconhece um deles, tímido. O grupo realmente precisa estar unido para fazer jus ao significado do Cavaleiro Fiel e terminar a obra antes da Copa do Mundo. “Ainda não começamos a trabalhar nela. Se não recebermos o material em 30 dias, já ficará apertado. O tempo é muito curto. Para você ter uma ideia, cada estátua de torcedor tem 30 metros. Teremos que fazer tudo por partes, levando o que já estiver pronto para a região do estádio. Ainda haverá o espelho d’água, chafarizes e holofotes. Será lindo e grande para c...! Dará para avistar a imagem do cavaleiro a muitos quilômetros de distância”, exalta o artista.
Para encerrar a carreira
A intenção é que os turistas em tráfego no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, consigam admirar o Cavaleiro Fiel em pleno voo. “Já imaginou que coisa linda? São Paulo hoje tem esculturas de 100, até 400 anos atrás. Você não vê ninguém fazendo monumentos novos, com interatividade com o público, como será este. Sinceramente, são poucas as pessoas no mundo que conseguem erguer o que estou propondo para o Corinthians”, comenta, orgulhoso.
Gilmar já consegue até visualizar, com os olhos marejados, as reações das pessoas à obra de Itaquera. “O legal é que o sentimento despertado em cada um muda”, ressalta. Ele lembra que uma representação sua de Jesus Cristo, maior cartão-postal de Ilhabela, já rendeu histórias curiosas. “Dois rapazinhos meio hippies, acho que estavam doidinhos também, ficaram assustados quando notaram a escultura. ‘Nossa, mano! Olhe a barba do maluco!’, eles gritaram. Eu gargalhava vendo o jeito de eles falarem de Cristo”, conta. Em outra ocasião, o escultor se apresentou para turistas que fotografavam aquele monumento como o autor da obra. Ninguém acreditou nele. “Sai fora, meu!”, reclamaram. “Eles imaginam que o artista é um cara barbudo, de cabelo branco, manja? Tipo o Gepeto, do Pinóquio”, compara.
Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Além do Cavaleiro Fiel, Gilmar Pinna está preparando, em parceria com o prefeito Antonio Colucci, um monumento em forma de velas e do mapa de Ilhabela para deixar na entrada do seu município natal. “São grandes obras para encerrar a minha carreira, principalmente a do Corinthians. Acredito muito neste trabalho. Estou com a minha trajetória consolidada, viajei o mundo todo esculpindo, mas ainda quero fazer algo marcante no meu País, para ficar na história. Por isso, estou clamando por patrocínio, material ou qualquer outro tipo de apoio”, repete. Gilmar Pinna fez questão de tirar esta foto ao lado dos seus ajudantes, que trouxe de Estrela de Alagoas
Minutos depois de encerrar esta entrevista, Gilmar telefona para um possível fornecedor de aço inoxidável e mostra-se confiante: “Sabe aquele vídeo que te mandei? Cedi com exclusividade para a Gazeta Esportiva, que vai divulgar como Cavaleiro Fiel. Vamos matar a pau assim. Só não fale São Jorge, por favor. Tudo dará certo. Um abraço. Tchau, tchau”. Gilmar desliga e diz “Deus há de querer” para si mesmo. E – por que não? – São Jorge e os corintianos também.
GILMAR PINNA DECLAMA SEU AMOR PELO CORINTHIANS | ||
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Conta Gilmar Pinna, escultor encarregado de colocar o “Cavaleiro Fiel” de 30 metros de altura diante do novo estádio do Corinthians, que ele próprio foi a inspiração para o músico Paulinho Nogueira homenagear o clube com a canção “Meus 20 anos”. “Eu estava com camisa, boné e tudo o mais do Corinthians, olhando alguns quadros da Praça da República com meu irmão. O Paulinho Nogueira ficou me encarando, com uma caixa de fósforos em mãos, e começou a compor em cima disso”, diz. Terminada a letra, o violonista teria se dirigido até Gilmar para falar: “Você me ajudou a fazer uma coisa que estava na minha cabeça há tempos. Fiquei te olhando e saiu na hora. Por isso, vou gravar a música e mandar um compacto para a sua casa”. Dito e feito. “Meus 20 anos” é a criação de Paulinho Nogueira para o período de maior jejum de títulos da história do Corinthians, que atingiu duas décadas com a derrota para o rival Palmeiras na final do Campeonato Paulista de 1974. Três anos mais tarde, Basílio findaria o sofrimento ao marcar o gol da vitória sobre a Ponte Preta em nova decisão do Estadual. “É o verdadeiro hino do Corinthians! Não tem nada de campeão dos campeões!”, defende Gilmar Pinna, que se empolga quando lhe pedem para declamar os versos de “Meus 20 anos” (veja no vídeo acima). “Nossa, que legal. Faço isso com o maior prazer porque estaremos falando da minha vida, do Corinthians.” Após externar seu amor pelo Corinthians em forma de poesia, Gilmar assume a postura de torcedor para cobrar garra do elenco comandado por Tite. “Corinthians é Paulinho, Ralf, Jorge Henrique e aquele Castanha. É Castán, né? Tirando eles, acabou. Eles, sim, são Corinthians. Vestem a camisa de verdade.” |
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